sexta-feira, 9 de agosto de 2024

Peripécias no local de trabalho

Sei que era suposto, já que «meio mundo» se encontra de férias, ser mais produtiva e fazer o trabalho que tenho a fazer… mas no meio de uma pausa e de tantas peripécias a minha veia humorística e artística não resistiu.

Às vezes pensa-se que na “Santa Terrinha” nada acontece. Julga-se que não há trânsito… isso não é bem assim, experimentem andar na estrada há hora em que os agricultores e os seus «maquinões» topo de gama (os tratores) vão e regressam do campo, (a minha pontaria é certeira neste relógio).

Tentem vir à cidade no dia do mercado… e no "querido mês de agosto". Esse mês, em que os filhos da terra e os filhos dos filhos da terra, regressam às origens, alguns, não todos, carregados de amnésia aguda, pois esquecem-se de toda e qualquer regra de condução e fazem tudo o que não é suposto fazer. Ainda hoje, na zona onde trabalho, um desses automobilistas estrangeiros, numa rua de sentido único, realizou uma extraordinária manobra de inversão de marcha e lá vai ele em contramão rua fora. Extraordinário!!

Mas não querendo fugir ao cerne do assunto “as peripécias”. Esta semana tem havido de tudo. Não acreditam? Um senhor que queria por força e porque queria que uma associação tivesse sempre de portas abertas e que leu uma notícia em que a empresa onde trabalho ia abrir uma escola. Um jovem que veio perguntar se aqui é que era “bla, bla”, isto é: disse inesperadamente, o slogan da minha entidade patronal e que no fim queria apenas uma fotocópia.

Dois jovens, que vieram à procura de uma edição especial, de algo que vendemos, para oferecer a alguém que fez anos em janeiro, para ficar com essa recordação. Dois jovens com quem estive todo o tempo a falar inglês, descobrindo no fim que um deles falava português. E a pior parte, alguém que foi à casa de banho e errou no sítio da sanita para fazer as suas necessidades (esta última era escusada). Tudo isto aconteceu em apenas três dias e eu não estou a incluir os habituais «amigos das fotocópias». Sim. Colecionadores fofinhos que adoram acumular papel nas suas casas, tirando cópias de tudo e que sabendo que eu estava sozinha, amargurada e desamparada no trabalho, têm-me vindo visitar. De acrescentar que o melhor da semana foi um "Olá linda!". Um piropo que recebi de um trabalhador de uma obra,  numa moradia no prédio em frente.


Acham que isto é um trabalho monótono…? Ainda vão a tempo de mudar de carreira. Voluntários, estagiários e escravos (esqueci-me que esta última palavra já não se pode dizer). Enfim são todos sempre, mas sempre muito bem-vindos.




 

sábado, 23 de março de 2019

Génios

Viver agarrado às capacidades, sem ser preciso arregaçar as mangas, não é para todos. Há poucos génios no mundo que tenham descoberto a diferença entre o que se é e o que se pode ser.  
Já é primavera, tempo de renascer, tempo de discorrer sobre a vida ou o que não se está a fazer com ela. Talvez pense demasiado, mais do que o habitual e poderia ficar com esse pensamento, mas antes do que não se diz, mesmo antes dessa conversa fragmentada, preenchida por prolongados sons... é melhor nada dizer. Não quero falar, pois aquelas palavras que se poupam no discurso para beber o líquido da euforia dum reencontro, faz-me magoar o silêncio.  
O tempo que temos é curto, descobri à pouco, mas nem essa descoberta me faz ver o mundo de maneira diferente. Já não me incomodo com a falta de afecto, ou com as futilidades, mesquinhes, coscuvilhice, isso não me interessa. Mas importa lembrar-me aqueles génios, sábios na leitura, na escrita, na investigação. Dotados em matemática, línguas, em ciências forenses. Muitos deles com capacidade para ser algo na vida, mas que nunca o chegaram a ser. Perderam-se no caminho, nos anos em que estiveram agarrados a uma heroína, pouco heróica, e o tempo passou, escapou-se, tal como essa promessa de vida com a qual nenhum deles se conseguiu comprometer.  

Foto: Catirolas

quinta-feira, 21 de março de 2019

Beco


Nesses momentos da vida em que estamos no meio de uma multidão, nessa altura, em que sabemos exactamente o que estamos ali a fazer e ainda assim... fica a dúvida e quando a dúvida fica, parece não haver espaço para mais nada.
O mundo não é um lugar estranho, onde vivem estranhos, ás vezes mais do que estranhos, o mundo não é um lugar estranho é um lugar entranho. Um pequeno quintal onde a poesia transforma, os sonhos em realidade e a realidade em sonhos, onde o teatro faz vibrar aquele que usa o palco da vida, para colocar a vida em teatro, subindo ou não, a um palco. Um beco, onde não há arte ou vida que valha, se não acreditarmos, se não sentirmos...um beco sem saída, mas num beco também há vida, uma saída. 

Foto: Catirolas


quinta-feira, 7 de março de 2019

Não me levem a mal.... levem-me simplesmente!


O dia revela sempre melhor o que a noite procura esconder, mas é na noite que o cutelo dá a ordem de esfaquear o gelo e aquecer o ambiente. O medo é o ambiente perfeito para não nos deixarmos adormecer em catadupa. Mas medo do quê? Se casei com ele, se lhe fiz juras de amor eterno, ao mesmo tempo que lhe prometi fazer o jantar todos os dias, engomar, dobrar a roupa e fazer amor quando a outra, a embriaguez não estiver por perto, mas não me interpretem mal, eu gosto de cozinhar e de passar a ferro.
Ás vezes agarro-me aos momentos bons, mas tem dias, talvez meses, ou anos... já não me recordo bem do dia em que a lua rompeu pelo céu e me iluminou o sorriso com os seus raios lunares, mas creio que foi no mesmo dia em que senti aquele abraço apertado, sentido, um pouco diferente do de hoje, menos esmagador, doentio e asfixiante, mas não me interpretem mal, eu gosto de abraços.
Em breve será de dia e virá o sol ansioso por romper por entre as nuvens… haja vontade! Muita fome. A música pode não ser forte, mas a melodia da música que as notas transmitem, é vibrante e não fosse a vibração dos corpos ecoar por entre a câmara negra do obscuro, se não fosse isso creio que poderia adormecer logo por ali. Mas adormecer para quê, se o acordar é uma montanha russa. Ontem recebi um presente, uma caixinha de maquilhagem, um pouco antes da outra prenda, daquelas que recebo todos os dias, só não sei bem quando e a que horas. Mas porquê? Para quê?
Se me quer bem, é porque bem me quer e se bem me quer e me quer tanto... não me interpretem mal, não gosto de maquilhagem, mas depois de tanto "bem querer," não há como não gostar.


Foto: Internet


quarta-feira, 6 de março de 2019

Dia de caça

Despontava mais uma manhã na planície. Vários elefantes espreitavam, excitados, por entre a pouca luminosidade, um grupo de homens com as faces reluzente e olhar ameaçador.Ignorando totalmente o aviso, em busca de uma madrugada de glória, os elefantes avançavam cuidadosamente, esmagando o asfalto por entre a folhagem até chegarem ao morro, onde melhor se podiam camuflar atrás de um tronco secular e assim contemplar aqueles magníficos caçadores, que emergiam por entre a névoa, cem metros mais à frente. Observados dali, os homens pareciam muito maiores e mais aterradores. De tal forma que os elefantes, apesar do porte, se sentem vacilantes.
Pouco depois, um dos caçadores, aparentemente o líder apercebeu-se da presença dos predadores. Então, bruto, ameaçador, investiu na direcção deles. Esticando a arma e disparando ruidosamente, quebrou o silêncio. Momentos depois, gerou-se o pânico entre estas majestosas criaturas de duas pernas - cobertos entretanto por uma imensa nuvem de pó - que se debatiam entre a vida ou a morte. O cenário era quase desolador, os caçadores vacilavam, uns caiam, outros fugiam, atordoados e meio enlouquecidos, para a densa floresta. No meio de tudo, apenas duas certezas: aquele rasto de sangue a tingir a terra árida e o olhar de dor estampado na face destes homens, outrora caçadores e agora caçados.
Foto: Catirolas

Força nas pernas e luz no horizonte

Numa lápide de pedra tosca, um tosco homem conversa. Fala com as mãos em palavras de gestos crus, adormecidos pelo padre que também ressona ao ouvir o seu pregão, no altar da vida. Enquanto os doidos se apegam, sobem ao mundo, pelas imagens de olhos virais, pessoas de corações vazios ardendo em gelo de emoções, onde se diz sentir tudo, mas onde nada se sente, verdadeiramente. 
No meio da violência, há sempre alguém que se ri. Garfadas de gargalhadas que traduzem os pensamentos, que são como os actos, já não falam por si e os laçarotes que enfeitam a mente roubam o espaço a um penteado de outros tempos. Mesmo a almas carecas.
O que fizemos ao mundo?
Tiquetaque, tiquetaque... a evolução avança nesse tempo, que não conseguimos controlar. Segue demasiado depressa por esse trilho, onde rostos perdidos se agarram com força a metralhadoras, como se fossem ursinhos de peluche para dormir e não hesitam em puxar o gatilho.
Por aí, ensina-se a matar, compra-se (in)felicidade e tudo é demasiado fácil, bastar ter uma dúzia de notas de bolso e uma centena de ideias pervertidas na mente. 
E se pararmos para pensar. Porquê parar para pensar, se temos alguém que pense por nós? Com ideias que se parecem com bares, cheios de copos vazios, prostituindo-se ao primeiro contacto bocal.
Se tenho medo? Tanto, tantas vezes, em tantas ocasiões, ás vezes até receio de abrir a janela e de descobrir como está hoje o dia, pavor de comer e de respirar, um terror desmedido de me perder por caminhos onde não sei quem vou encontrar.
O que fizemos com o mundo?  
Não acordei agora, despertei muito cedo e deixei o carro em casa para a apanhar a bicicleta, mas na ânsia de não me perder esqueci-me pedalar pela vida e a vida fez com que caí-se na estrada, várias vezes... a estrada vai continuar por lá e tu?
... há força nas pernas e luz no horizonte.

Foto: Catirolas

sábado, 2 de março de 2019

Descoragem


Antes que o Carnaval encerre e todos voltem a vestir as máscaras, depois de as terem deixado por aí...

Encerro os olhos e consigo vê-lo na perfeição, ás vezes senta-se ao meu lado, a olhar para mim, outras vezes sinto-o apenas a sentir o meu respirar, o perfume da minha trança. Nesta curta distância vejo-o a agarrar na minha mão e a sorrir para mim, como se não houvesse mais ninguém e ali estivesse uma multidão… vejo-o e não quero voltar a ver.
Largos momentos permanece em silêncio e não me diz nada, mas nada fica por dizer. Apesar de me atormentar, tem dias que me quero livrar dele, mas tem outros, que o quero bem perto de mim, pela adrenalina que me oferece e por me fazer sentir vida. Quando ganho coragem, pouco a pouco, consigo torná-lo mais pequenino e deixo-o passar por mim sem sequer lhe tocar, mas sei que é temporário, pois ele volta, volta sempre. 
Às vezes é difícil acordar, mas temo mais pelo adormecer.
Foto: Catirolas

sábado, 23 de fevereiro de 2019

To be, or not to be?


Nunca mais por aqui passei, não por não ter o que escrever (tenho tanto que escrever), mas por ter medo de o fazer. Medo destas minhas palavras, me fazerem dedilhar tudo o que na alma me vai e o coração não controla. Queria falar de amizade,  amizade. Afinal o que é a amizade quando se dela dúvida, quando nem sequer se a questiona, quando não se quer sequer saber? Não conheço amizades assim, mas conheço pessoas e o mundo é uma miscelânea, muitas vezes demasiado real para ser irreal.
O mundo é uma miscelânea de pessoas e nem sempre as pessoas são aquilo que tu gostarias que elas fossem, mas ainda assim acreditas. Acreditam? Nesse mundo, há toda uma série de obstáculos, alguns que levas uma vida inteira, sem tropeçares neles, mas que um dia aparecem para te fazerem cair. "To be, or not to be, that is the question"
Not to be. 
Por vezes é difícil seres tu, quando és aquilo que sempre fostes, mas ainda assim o pintor, o artista a quem encomendaste o teu retrato, lhe dá outros traços, lhe pinta outra cor. Um retrato que faz perder toda a essência daquilo que és. Mas a intensidade e o dramatismo é de tal forma, que apesar de não ser nada parecido contigo, o retrato vende mais, tem mais valor, do que se fosse um fiel retrato de ti.  "To be, or not to be, that is the question"
To Be.

sábado, 9 de fevereiro de 2019

Será que me é permitido sentir?

Será que me é permitido sentir?
Ás vezes gostava de ter uma pedra no lugar do coração, não me importar com as pessoas, não chorar por aí, escondida com medo de deixar passar as emoções. Gostava de não ser eu.
Sim. Não é nenhuma utopia, mas gostava de tornar o mundo, (de algumas pessoas num lugar conhecido, aconchegante, num lugar chamado lugar). 
Mas como ajudamos alguém que não quer ser ajudado? Que não quer saber?
"O mundo é feito de pessoas", digo tantas vezes, com uma força interior que às vezes não serve nem para mim própria, pessoas onde há sempre algo de bom, mesmo que esteja escondido ou camuflado. Mas será mesmo? Ou não será apenas uma ficção, criada pelo número de amigos que se consegue angariar nas redes sociais, aqueles que hoje servem para tudo, mas que amanhã, não valem sequer lá estar. E que pessoa sou eu no meio dessas pessoas? Não sei. 
A vida que levamos ou a vida que tentamos levar, até pode ser diferente da que gostaríamos de ter realmente, mas pelo menos tentámos e não é hoje que vou desistir de sentir, ainda que por vezes me seja proibido.

Foto: Internet

quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

O rio

Na sala de espera, tudo se espera e o tempo perde-se no tempo, o tempo... esse criminoso de olhos amendoados e de bigode esticadinho. Homem pançudo que percorre a aldeia serrana, de lés a lés, com uma carrinha de venda ambulante. "Quem quer comprar a melhor banha da cobra?", apregoa em todos os recantos, todos os buracos e todos os caminhos, mesmo aqueles que indo ter a algum lugar, não vão ter a lugar algum. Na bagagem o de sempre: sonhos, emoções e pedaços de companhia traduzidos em dois, três ou mesmo quatro dedos de conversa, nessa vontade de beber o elixir, de não envelhecer prematuramente.. 
Um pouco abaixo nasce um rio, que entre murmúrios e gargarejos, vai toldando a paisagem, estendendo-se pelas pedras vestidas de algas e musgo. De tempos a tempos, um Achigã (peixe do rio) rende-se às suas caricias, deixando-se levar pelo embalo da corrente. Um pouco mais a sul é a vez de uma tonalidade castanha, se misturar com a limpidez dos seus olhos, turvando-lhe o pensamento com pensamentos de saudade. Voltar para o lugar onde nasceu, é a primeira ideia que lhe vem à ideia, mas no regresso apercebe-se que já não é o mesmo. A sinuosidade do seu corpo deu lugar a um leito mais largo, de margens que transbordam para várias margens e não há margem para isso. 
Não é da idade, não é do tempo, mas é o tempo que o levou à passagem do tempo, onde a idade não importa, pelo menos enquanto a água continuar a nascer e a corrente a passar.
Foto: Catirolas

segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

Considerações a considerar

Estou perto, a falta de distância não me afecta. Não procuro ajuda externa, tento encontrar muita força interna. Não tenho mau feitio, apenas um feitio que não foi feito para todos. Raramente leio o horóscopo quando procuro algum conselho, a não ser que queira exactamente um, que sei que não irei cumprir. Não preciso de fazer dieta, basta ignorar algumas pessoas que me fazem perder peso só de olhar. Não importa se sou ou não profissional, o que interessa é o quanto profissional me possam pagar e esse pagamento cair de forma profissional, a tempo e horas na minha conta bancária. Não quero saber do que estou habilitada a fazer, sou afilhada e madrinha ao mesmo tempo, do tio, que é primo de alguém que não conheço, mas que como chegou mais cedo, ocupou um lugar, que não interessa, mas que todos querem reclamar. Inúmeras vezes canto, sem saber cantar: "Oh! Rosa, vá lá, arredonda a saia", apesar de 90% do meu vestuário se resumir a calças de ganga, sem partes do corpo à mostra, mas com muita vontade de o mostrar, em suma, sem suar, muitas considerações a não considerar, ou não fosse a vida esse lugar estranho, onde gostamos tanto de estar e de não estar.

Foto: Catirolas

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Outono

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