Mês de Maio, uma multidão precipita-se a correr pela Avenida da Liberdade como se não houvesse amanhã; um rapaz com as bochechas cor-de-rosa e uma curiosidade comichosa pergunta:
- O que se passa? Para onde vão todos?
- Então não sabes garoto! Vamos para a festa.
- Para a festa! (perguntou com admiração).
- Sim a festa do Papa.
Uma festa religiosa que vai dar aos "portugueses de primeira;" umas borlas de trabalho.
Portugueses, um povo devoto na sua fé que começou logo a contrair empréstimos para poder preparar condignamente a recepção de sua santidade.
E pergunto eu que sou ateia: Deus quereria esta feira?
Mas qual feira? É apenas um grande acontecimento religioso, então vejamos:
Na Praça do Comércio está a ser montado um palco para o espectáculo Papal.
Nos media, as campanhas temáticas para explorar ao pormenor a visita de Bento XVI já começaram há semanas:
O CM promete receber o Papa com 500 mil bandeiras; DN e JN vão oferecer O Grande Livro dos Papas, um estandarte da Paz, seguindo-se a medalha com banho de prata; A Promotextil (PTX), está a vender às paróquias cerca de mil T-shirts por dia, alusivas à vinda de Bento XVI, mas espera-se que as vendas diárias disparem a partir da próxima semana, até ultrapassarem o milhão. Para além disto tudo, temos ainda os artigos religiosos de ocasião alusivos à data, e outras tantas explorações comerciais que já estão espalhadas por todo lado; estratégias comerciais aproveitadas não pela dimensão religiosa e cristã, mas essencialmente pela percepção da imagem “da marca Papa” que por si só vende, e que é susceptível de causar audiências. Mas não é negócio, é apenas a fé a falar mais alto.
Já dizem as revistas cor-de-rosa que esta vai ser a festa do ano, não só pelo banho de multidão, mas pelo interesse que tem vindo a despertar; da comunicação social, da comunidade religiosa, da comunidade não religiosa, do resto do mundo, e até dos carteiristas que se encontram neste momento em estágio pelos jogos de futebol, feiras e centros comercias; depois de uma semana de curso intensivo, subsidiado pelo Instituto de Emprego e Formação Profissional, que incluiu aulas de Inglês, teatro, exercícios de punhos e mãos e de defesa corporal. Também eles, desempregados de longa duração por opção, esperam, com ansiedade, que esta festa seja boa para animar o negócio das carteiras, que ultimamente tem estado muito mau…afinal, Portugal depende, e está a contar com eles, para pagar as dividas pós-Papa.
Finalmente, na última carruagem do comboio com destino à festa, vão aqueles que realmente têm fé e acreditam em Deus, mas que são humanos, suscéptiveis de serem influenciados pela panóplia de interesses criados à volta de um acontecimento que é importante para a comunidade religiosa, mas que não carecia deste circo. Afinal, tudo é uma questão de fé, algo que não se vende nem se compra, ou será que sim?
Imagem: Internet
3 comentários:
Olá, a fé é e será sempre uma questão económica.
Vamos snifar umas velas?
Paulo
A religião foi, é, e será sempre uma grande feira, de interesses principalmente!! Agora a fé...isso é outra coisa, que é bem aproveitada pela religião em geral e pela igreja católica em particular! kisses grandes
Olá Tulipa, boa reflexão sobre o assunto. obrigada.
Bjs Catarina
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