E se
a estrada por onde segues não for aquela por onde planeaste ir?
Ti
Maria Cremilde leva a enxada às costas, vai para a horta.
Acorda
lá pelas cinco da manhã. Com duas fatias de broa e um caneca de café, antes do
calor queimar mais uma ponta do chapéu de palha, remendado com linhas de linho,
segue para a horta.
Envergando
seu fato preto, lembrando a partida de entes queridos, desloca-se a pé para o
campo, onde plantou uma mão cheia de tomate, que está quase maduro e que
entretanto fará compotas para vender, todos os sábados, no mercado da vila. As pouco
conhecidas mas muito desejadas compotas da Cremilde.
Ti Maria
vive numa completa solidão, mas não é uma mulher só, tal não é a dimensão da
vida, não apenas dos afazeres que a ocupam ao longo do dia, mas na vontade com
que se dá e abre o seu coração.
Vive
isolada no cimo de um monte, onde a vista que se avista é demasiado longe para
quem está tão perto do ruído da civilização, mas que assim quer ficar. Dali sente
o ar fresco e húmido da manhã, antes do sol subir bem alto e vê o mar, onde
nunca se banhou.
Conheci
esta linda mulher de olhos verdes e cabelo grisalho num acaso, seguindo uma
estrada pela qual não planei ir. Recebeu-me com um sorriso, partilhou comigo broa
de milho barrada com compota de tomate, contou-me histórias do arco da velha, deixou-me
abraçar os seus dois gatinhos farruscos, pegar ao colo nas galinhas, tirar o leite
das cabrinhas, deixou-me ficar.
E eu
fiquei, perdida nesse lugar, (por onde não planei ir), mas achada em tudo o
resto…
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