segunda-feira, 4 de junho de 2018

Helena

E se um dia as minhas mãos decidirem ir para um lugar diferente, daquele que os meus pés querem ir?
Tenho guardado há alguns anos numa folha de papel A3, a árvore genealógica da família. Um esboço que fiz, com a ajuda da memória da minha querida avó Helena. Os nomes dos meus antepassados e algumas curiosidades que ali constam são o registo, um arquivo, de alguma importância para mim. Mas não tão importante como a recordação da Helena, que abracei tantas vezes, (mas nunca o suficiente). 
Helena era uma mulher beirã, de pele morena, olhos claros a lembrar as amendoeiras em flor, mas o que mais sobressaía nela era a sua alegria contagiante. "Helena conte lá uma das suas!" Diziam-lhe tantas vezes. Uma das suas, significava uma lengalenga, uma chalaça, ou algo pior,  que fazia sempre alguém rir.
Ninguém lhe era indiferente e eu não era diferente.
Sentada num banco de madeira, enquanto a cafeteira de alumínio mascarrada, já sem asa, dançando ao lume, fazia o café, Helena contava-me histórias sem papel, livros ou fotografias para se documentar, falava-me ao coração, com coração...e o maior legado que me deixou, o registo mais importante para a minha árvore genealógica, foi mesmo esse amor.
Helena partiu quando menos se esperava. Uma noite sentada ao lume de lareira aberta, caiu e queimou-se. Não era por ser avó, ou por ser minha, (a minha avó), mas Helena era uma mulher muito especial! Não deixava ninguém indiferente e eu não era diferente. Gostava mesmo muito dela!



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