São oito da manhã na cidade, o
que equivale a nove na santa terrinha.
Os passos ritmados confundem-se
com a pressa de chegar a qualquer lugar, ao trabalho, à escola, à vida...Indiferentes
a esses tempos muito fora do tempo, há ruas, e estórias para contar.
Muitas. Nesse lugar onde ainda moram as lojas e as gentes de antigamente,
apeados num tempo que não volta, mas que também não anda para a frente
A mercearia da esquina, onde se
vende a fiado, a barbearia do António, onde o corte de cabelo ou o aparar da
barba, custa mais ou menos uma bejeca e umas iscas, ali ao lado na tasca do
Albino, onde a Margarida dos cabelos em cachos e as coxas formosas já tem os
copos alinhados e a frigideira a fumegar. Lá dentro, ao mesmo tempo em que se
sente o cheiro a bifanas, temperadas em vinha de alhos, aquela bela rapariga,
onde a idade é uma incógnita, serve copos de café frio, ginjinhas, mata bichos
e muitos sorrisos que cativam quem por ali passa....
De cinco em cinco minutos
Margarida corre para a porta à espera de ver passar o seu amor...mas até agora
só viu passar os autocarros. Na sua cabeça mora a emoção da noite anterior,
onde um rapaz se fez a si e puxou-a de encontro ao seu corpo... A sua face
ruboriza-se com a lembrança. Nos seus lábios mora o desejo daquele beijo,
lânguido, atrevido, longo e molhado, que lhe roubou a noite e que lhe devolveu
o dia...despudorado.
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