quinta-feira, 20 de novembro de 2025

Entre o desabafo e a exigência da perfeição

Vivemos tempos em que a pressão para sermos perfeitos invade todos os espaços da vida: a família, a escola, o trabalho, até os momentos íntimos de descanso. O desabafo que tantas vezes se ouve, portas a bater, pratos no chão, lágrimas e pedidos de desculpa, não é apenas um retrato doméstico. É o reflexo de uma sociedade que cobra sem descanso e que raramente oferece espaço para falhar, para ser humano.

A escola, por exemplo, deveria ser lugar de crescimento e descoberta, mas transforma-se em palco de medos: medo das queixas, medo de não estar à altura, medo de ser comparado. O lar, que deveria ser refúgio, torna-se campo de batalha entre expectativas e frustrações. E no meio de tudo isto, quem sofre não é apenas quem explode, mas também quem escuta, quem tenta segurar o peso de tantas exigências.

O problema não está apenas nos comportamentos que magoam , os gritos, os pontapés, os insultos, mas na raiz que os alimenta: a ideia de que só a perfeição é aceitável. Como se as “esposas das outras” fossem modelos inalcançáveis, como se os filhos tivessem de ser sempre exemplares, como se os erros fossem pecados imperdoáveis. Essa lógica corrói a confiança, desgasta os afetos e mina a saúde emocional.

É urgente reconhecer que o silêncio que se segue às explosões não é paz, mas fadário. É a resignação de quem já não encontra forças para lutar contra a exigência de ser perfeito. E é precisamente aí que precisamos de mudar: aceitar que a imperfeição é parte da vida, que o erro é oportunidade de aprendizagem, que o abraço sincero vale mais do que qualquer castigo. E vale. Vale tudo e tudo vale.

Amanhã será outro dia, sim. Talvez pior, talvez igual. Mas pode ser também o início de uma nova forma de olhar para nós mesmos e para os outros: com menos cobrança e mais humanidade. Porque só quando deixarmos de exigir perfeição poderemos, finalmente, ser (im)perfeitos e viver com isso



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