O que fizemos nós do Natal?
Centros comerciais repletos de
gente, sacos para aqui, sacos para ali. Um espaço onde se apela massivamente ao
consumo e onde as prateleiras estão cheias de ricas prendas e prendas ricas,
para ricas pessoas.
Eu também sou enganada pelo
Natal, mas quando abro o coração, descubro, para
além dos encontros de quem me desencontrei o resto do ano, que esta quadra
traz-me quase sempre um presente enlaçado de nostalgia e de saudade, de quem me
lembro eternamente.
Foi no dia 26 de dezembro que a
vi pela última vez, eu vestida com um fato que parecia um astronauta e ela
ali... com aquele ar de sempre e uma pronuncia beirã, nessa capacidade de dizer
uma centena de chalaças e de palavrões, numa frase curta e sem parecer muito
mal. Esse foi o nosso último momento, mas foi apenas um, o pior do melhor, de
uma vida recheada de tantas coisas nossas. Recordo muitas vezes do frio e do
calor, da intensidade dessa fogueira, onde a frigideira mascarrada, rendida ao
lume em cima de um tripé banhava a massa, amassada horas antes com os
cotovelos, até encharcar a roupa interior, para depois cair num óleo escaldante
e numa dança harmoniosa transformar-se em filhoses. Lembras-te do que
partilhávamos nesses momentos? Eu jamais esqueço...
..as recordações por vezes
magoam, mas também servem para nos guiar para o que realmente é importante e o
que realmente importa não está nessa caixinha brilhante e cheia de lacinhos que provavelmente irão receber no Natal... está sim na vontade de nos dar.
O que vamos fazer no Natal?