quarta-feira, 26 de setembro de 2018

Vistas

Se o mundo fosse um lugar justo, grande parte do hemisfério norte ficava no hemisfério sul e o hemisfério da vida era percorrido pelos dois.
Ao contrário do que pensamos, ver um lugar comum, num lugar comum, é para todos, mas ver realmente, para além do que os olhos nos mostram, não é um lugar comum, muito menos para todos.
Foto:Catirolas 



terça-feira, 25 de setembro de 2018

Regras


Na manhã da meia tarde, os "pais" foram chamados ao gabinete. Lá dentro, a responsável acompanhada pela psicóloga registava tudo: a postura na cadeira, a expressão facial, as palavras, e até os olhares e a posição das mãos não escapavam a um crivo de avaliação. O pai, alto engravatado. A mãe, vestindo uma marca sobejamente cara e conhecida, ambos com a maquilhagem no ponto. A responsável falava, explicava os procedimentos, debitava os factos. "A Maria Carolina resolveu andar descalça em cima da relva acabada de cortar e esteve a apanhar sol no recreio. Com tantos anos de ensino nunca tal se viu", manifestou indignada a educadora, cujas normas estavam bem delineadas. Farda impecavelmente vestida, cabelo apanhado e horas e horas de actividades no interior da instituição presencial, mas pouco presente. Maria Carolina teve um ataque de vida, quebrou as regras e lembrou-se de viver. 
"Ás vezes é preciso quebrar as regras para sentir que estamos vivos"

Foto: Catirolas

segunda-feira, 24 de setembro de 2018

Copos de tempo


Já tenho a "mula" preparada e o kit pernas em acção mas falta a máscara, aquela que perdi quando o comboio chegou, e já foi há algum tempo se pensarmos que o comboio já ali não chega. 
Há dias em que não sei mesmo como dizer palavras meigas, agradecer um sorriso, cruzar as pernas, expandir os braços, falar escandalosamente baixinho. Desconheço como enfrentar a multidão!
Esticar ou encolher as pernas é sempre uma opção que fica por escolher, e a escolha mais fácil, situa-se entre os litros de qualquer coisa, que no meio de um mundo de faz de conta, me faça sentir mais ou menos pessoa. Muito difícil, quando toda a gente à tua volta parece um filme demasiado futurista, para a tua gula de anos 80. 
Posso gritar? Quero gritar: devolvam à malta os pac-man, o super Mário, o lobo mau, a bela adormecida, e porque não Uma Casa na Pradaria... devolvam a emoção de adivinhar se a pessoa chegou ou não, há hora marcada e ao lugar escolhido, uma semana antes, sem recursos as tecnologias, apenas pelo compromisso de se estar. E junto com o pacote de devoluções acrescentam a genuinidade. 
Tenho tanta vergonha! 
A vergonha de se ser diferente passa por corares intensamente, quanto te dirigem um piropo e meia hora depois percebes que não era para ti, era para a altura da tua saia...
Vamos beber uns copos de tempo?

quarta-feira, 19 de setembro de 2018

Raramente


O medo de enfrentar a claridade, não é muito diferente de encarar o escuro, principalmente quando a luz do sol, a esta hora do dia, já não aquece nem arrefece. 
Não é errado dizer que não, nem muito certo dizer que sim.
O infinito silêncio, não é muito diferente, do silêncio do infinito. Às vezes, não sei nada e não sei se quero saber.
Há palavras que nasceram para ser enfrentadas e há outras, que podemos apenas usar no interior do pensamento, quando confrontamos a nudez do nosso corpo. 
Decidir faz raramente parte da vida. 


Imagem: Catirolas

quarta-feira, 12 de setembro de 2018

A vida na santa terrinha é tão agitada.


Depois das férias de verão é difícil voltar. Voltar às rotinas de almoçar sardinhas frescas, vindas directamente da lota, acompanhadas com salada de tomate, apanhado do quintal, e da broa cozida a forno a lenha. Regressar ao transito infernal dos tractores que vão para os campos, uns mais topo de gama que outros, e regressar a esses horários e distancias que te colocam a poucos minutos de casa, praia, campo, actividades desportivas, culturais... A vida na santa terrinha é muito agitada e é difícil voltar depois das férias. Mas mais difícil é escutar o silêncio, que se perde no meio de uma multidão, que tanto fala e nada te diz. Saudades. Sim. Tenho muitas saudades, mas nada que uma prenda desta loja,  http://www.azevedorua.pt/ que adoro, não resolva 😍. Afinal, chapéus como estes não há muitos não.




segunda-feira, 3 de setembro de 2018

Filosofias


Por mais que se tente abrandar, a verdade é que o ritmo da vida, nem sempre corresponde à música que estamos a ouvir, ou que queremos escutar. Nestes dias, nem o sol faz o que lhe apetece, nem o que nos apetece podemos fazer ao sol. Prestes a corar!
A verdade é que ainda há por aí quem nos surpreenda com o seu talento, com a sua maneira de ser, com a vontade de ser aquilo que é, assumindo-se na vida, despido de comportamentos incompreensíveis, de coisas... a viver com o pensamento nessa aldeia que quer ser cidade, mas que nunca deixou de ser aldeia.
Há tanta beleza por aí! Tantos lugares, tantas pessoas, uma imensidão de companhia! Porque perdemos a coragem de ver, de sentir, de deixar os outros sentir por nós, de nos sentirem, de nos sentirem sentir, porque nos rendemos a ficar sós.
Julgamos, desconfiamos, vivemos nas entrelinhas das palavras esquecendo que por vezes, as palavras são como as pessoas, nós, aquilo que somos, onde aquilo que dizemos, ou sentimos quer dizer exactamente aquilo que lá está, sem ser preciso muita psicologia ou algum dicionário para decifrar. Não podemos passar a vida a tentar ser desumanos, ou mais cedo que tarde, acabamos por esquecer  o sentido da humanidade, a única coisa que faz sentido...corar! (não é bem isso, mas hoje pode ser)

                                     
     Roupa a corar ao sol - Foto: Catirolas




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