quinta-feira, 31 de agosto de 2017

Os direitos dos direitos

Em Melboune, na Austrália o restaurante Hadsome Her, vegan e feminista, cobra uma taxa de mais 18% aos homens em relação ao preço cobrado às mulheres, a razão, justifica a proprietária, tem a ver com a percentagem que as mulheres australianas ganham, a menos que os homens, pelo mesmo trabalho. Em Portugal o Governo, através da comissão para a Cidadania e Igualdade do Género, por recomendação do ministro adjunto recomendou a retirada dos cadernos de actividades de uma editora, por terem exercícios mais fáceis para raparigas do que para rapazes e de seguirem preconceitos discriminatórios. Não sendo a favor da discriminação seja ela qual for, a verdade é que os homens são diferentes das mulheres, existem certos trabalhos, quer sejam físicos, ou mais intelectuais, que as mulheres fazem melhor do que os homens e vice versa, infelizmente e por culpa da sociedade, acentuou-se essas diferenças, usando-as na sua maioria em favor daqueles que por uma razão, essencialmente histórica, começaram por ter um papel mais visível, mais activo, lhes foi dada essa oportunidade. A sociedade, a história, a vida vai mudando, mas ainda assim e agora mais por conveniência do que por outra coisa, por interesses económicos, não houve ainda a tal evolução para o patamar onde todos nascem iguais com os mesmos direitos...eles existem, mas não são mais do que direitos negociados, impostos, oferecidos, vizinhos de uma falsa liberdade.

quarta-feira, 30 de agosto de 2017

Noite infernal

Foi numa noite infernal, escaldante, ardente de verão. O ar abafado convidava a uma saídas nocturnas, a umas escapadelas boémias, pelos caminhos do pecado e do prazer, contrariando o tédio da azáfama, que é o dia-a-dia. O bar do costume estava como habitualmente, apinhado de gente. O ambiente não podia ser mais agradável. Conversava-se de tudo, ouvia-se música e, claro, bebia-se muito, desde os mais exóticos cocktails até à tradicional imperial. Uns quantos copos depois, o espírito estava mais solto, mais descontraído, e a embriaguez conduzia à desinibição. Do outro lado do bar, encontravam-se uns deslumbrantes olhos castanhos, uns longos e lustrosos caracóis e umas pernas espectaculares. Enfim, uma rapariga repleta de beleza e sensualidade. Sem conseguir resistir aquela magia, um jovem aproximou-se dela. Um cigarro na boca, dois dedos de conversa e um pequeno beijo nos lábios foram os primeiros passos. Depois, as mãos entrelaçaram-se e saíram do bar, em direcção ao carro estacionado numa rua deserta. Sentados no banco de trás, começaram por se beijar. Primeiro devagar, depois cada vez mais famintos, sofregamente. As mãos, excitadas, não paravam quietas. O coração pulsava cada vez mais depressa. Os seios pareciam querer saltar para fora da blusa desabotoada. O prazer do momento contagiava e aquecia o ambiente, embaciando os vidros do carro. Minutos mais tarde, desfalecem cansados no banco de trás. As faces rubras, os olhos brilhantes, os cabelos despenteados, os corpos nus e as almas sorridentes, traduziam uma vontade de voltar a repetir tudo, outro dia qualquer.
Amor?Não! Era apenas sexo, sexo bom. E a protecção? O preservativo? Não tinha sido utilizado! Estava algures, inviolável no bolso das calças. Aconteceu tudo tão rapidamente que nem houve oportunidade.
Alguns meses depois, numa noite  infernal, fria, gelada de inverno, o ar, impregnado por partículas de pó, tinha um sabor amargo e o cheiro da morte. Na cama do hospital, um jovem pálido, doente, com os olhos rasos de água, recordava com certa dificuldade, aquele maldito episódio. Ela era boa, bonita, sensual, um autentico demónio de saias, o seu verdadeiro carrasco. Não sabia o seu nome, nunca soube. Na verdade já não sabia mais nada, perdera os amigos, a família, o trabalho, a dignidade, o respeito e até a esperança. Restava-lhe apenas a sombra negra da resignação e da revolta, por tudo o que o destino lhe traçara. "Se ao menos...", lamentava-se. Mas agora era tarde demais, a racionalidade desvanecera-se, a vida fugia-lhe das mãos. De tudo o que tinha, e que subitamente perdera, restava-lhe apenas a certeza de uma coisa, daquela maldita placa pendurada na porta do quarto, como uma corda pendurada ao seu pescoço, a anunciar: "sida. Doente em fase terminal".

Agosto de 1997.

Um dia melhor

São assim... tristes tão tristes, que as suas lágrimas parecem cachos de uvas pendurados na videira os olhos. Pobreza de casa, de trapos, de amor, ausência de pão. Vidas trazidas à praça pública em pequenos desacatos privados, raspas de promessas entoadas num timbre de voz invisível, para ninguém escutar. Gritos secos de bocas molhadas pelo vinagre da indiferença. Aí se vai ficando, cuspindo golfadas de dor no prato que se come, ainda que este se encontre ausente de comida. Ridículo?
Permanecer num lugar onde não se pertence, ou partir para outros horizontes que parecem infinitos labirintos de veredas domingueiras, onde o vazio é sempre o mesmo e até a indigência da guerra se reflecte nesse silêncio só, num colectivo de manhãs que têm o gosto de noites e de meses que aparentam anos e anos iguais. Quem sabe se amanhã o calendário nos surpreende e se não será finalmente dia de folga.

terça-feira, 29 de agosto de 2017

Incendios e incendiários

Hoje ouvi uma psicóloga dizer que é errado falar-se em "abertura da época dos incêndios" como se estivesse a falar da "abertura da época balnear". O pior é que infelizmente hoje não se pode considerar exactamente uma época especifica de incêndios, pois eles acontecem muito antes do inicio da época balnear e terminam também algumas vezes depois, por razões demasiadamente faladas desde que me lembro, muito antes do tempo em que a minha avó Helena, me dizia: "lá vem o avião dos fogos", uma frase que não vou explicar nem esmiuçar, muito menos pelas razões e circunstancias em que perdi a minha avó, já lá vão alguns anitos. Por isso e sem querer entrar muito neste tema concreto, ao qual, e por razões pessoais sou particularmente sensível, prefiro debruçar-me sobre outros fogos, mais ardentes ou escaldantes, como a queimura politica, que ganha outra dimensão, consoante se estivermos em épocas de grande calor politico ou não, como é o caso, ou ainda e para os mais românticos, debruçar-me sobre os incendiários do coração. Esses seres eivados de desejo, que ardem fogosamente, mas que não declaram expressivamente a sua paixão, por receio de dar ignição a vontades tardias, dessas duas mãos se entrelaçarem, na união dum projeto comum, que pode ser de amor, sem ser forçosamente amor a dois tempos, a tempo inteiro, ou até a tempo comum, mas que ainda assim... tem tudo para incendiar um faneco do coração.

segunda-feira, 28 de agosto de 2017

Esse doce dilema

Por vezes esperamos tanto, de tanta gente e tanta coisa de gente nenhuma, que nos esquecemos do mais importante, dar! Dar um sorriso, uma palavra... oferecer a nossa presença. Num dar e estar sem cobrar, porque a vida é um doce dilema cheio de açúcar, que pode até fazer mal aos dentes, mas que faz muito bem ao coração. 


sexta-feira, 25 de agosto de 2017

Demasiado


Há dias em que nos sentimos engolidos pelo mundo, nesse cantinho, onde o cheiro a queimado não significa necessariamente que as torradinhas, para o café da manhã, viraram queimadinhas, porque nos distraímos com as aparências, que apesar de nada quererem dizer, querem dizer exatamente aquilo que mostram.
O que será que significa e qual a importância de se ser qualquer coisa na vida? Um homem demasiado bêbado de solidão e excessivamente sóbrio para amar.


quinta-feira, 24 de agosto de 2017

Quando um não faz sentido, faz todo o sentido


Ás vezes tenho dúvidas... e se tenho tantas. Se estar na moda significa a cor de determinado item colorido fazer "pandân", com a cor de outro! Claro que não são essas as minhas duvidas, mas ainda assim são as únicas certezas sobre as quais me é permitido neste momento escrever. 
Sei que a vida não tem que ser chata ou aborrecida, não tem que ser feita de escolhas, entre o que está certo versus o que está errado... e este é um tempo, "calendariamente" falando, onde tanto teria para escrever, seguramente em anos de catirolices, no seu pleno, pseudónimo quase anonimato o faria sem filtros, mas agora é mais um exercício para quem me acompanha há tantos anos, (e eles sabem quem são) não por aqui, mas num período muito anterior. Na altura em que era uma personagem, mais ou menos com a mesma altura que hoje ainda mantenho, a brincar com as palavras, para um jornal nacional. E seis anos de brincadeira, até parece brincadeira. Alguns ainda terão algumas dessas relíquias guardadas por aí, tal como eu, mas que nem me atrevo a partilhar. Por isso e voltando ao assunto das leituras nas entrelinhas: se pensam que a vida na cidade é agitada, excitante e muito emocionante, experimentem acompanhar as eleições na santa terrinha. É de sublinhar que este post, não se refere apenas à politica, mas a todos os cactos eleitorais, incluindo fashion choices.


terça-feira, 22 de agosto de 2017

Reflexões sobre terrorismo

Passamos por eles, ouvimos apregoar por aí, escondidos em tendas, ou casas que parecem tendas, ou em casas que em nada se parecem tendas. Nem todos se vestem dos pés à cabeça, deixam crescer os cabelos, as barbas e os filhos e os filhos dos filhos e nem todos filhos da mesma mãe e muito menos filhos da mãe. Nem todos vivem na clandestinidade, comercializam armas, empunham armas...e se tornam armas. Nem todos atropelam pessoas com o mesmo rigor que lhes atropelam os sentimentos.
O mundo há muito que deixou de ser o que era, não apenas pelo terrorismo, muito presente, mas por culpa da visibilidade dos nossos dias. Somos vaidosos, tudo exibimos, tudo mostramos. Podemos não ser terroristas mas somos repórteres da morte. Usamos fechaduras para segurar os nosso bens, mas não hesitamos em expor as nossas vidas.

Publicação em destaque

Outono

Incrível!! Ainda ontem o cair da noite banhava lentamente (a passo de caracol) os nenúfares que boiavam no charco verde de águas cálidas, ...