terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Emociones

Pelo sim pelo não, não vá as gotas de suor escorrerem pelo rosto pelo esforço despendido entre o que se escreve, o que se lê, igual ao que se pensa e não se diz, diferente do que se sente e se esconde.
O melhor é sentar calmamente e entre o tocar de duas mãos num par de jeans, numa linha icónica difícil de manter, ainda que aconteça naturalmente, num lugar onde não existe perfeição e onde  as curvas tomam conta das linha rectas, o melhor é sentar, sentir e apreciar as gotas de água que entretanto substituíram as de suor, salgadas e doces...Somos humanos e estamos vivos. Emociones.

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

Exigência

Quando pensam que as palavras que escrevo não fazem sentido, não pensem, sintam-nas!
Enquanto o sol já se põe, desenhando uma linha laranja sobre o mar, apercebo-me que já sinto saudades. Saudades de sentir aquele momento num outro lugar, mas sou engolida pelos meus próprios pensamentos e não há maneira de desmentir as verdades da mudança, verdades como a exigência do mundo. O mundo de hoje é demasiado exigente... uma exigência em que exige do outro, aquilo que não ousa exigir de si próprio. 
O mesmo mundo onde às vezes parece que, ser basicamente honesto não chega, é preciso ser-se também honesto basicamente. 


terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

O instante seguinte

Sob aquela luz, parecia índia. Cabelos negros, compridos, lisos, uma beleza difícil de entender para lá da máscara, mas ainda assim perceptível pelas linhas do rosto, ou as curvas do corpo, meio escondido pela indumentária. Tenho a certeza de que já me havia cruzado com ela em algum lugar. Perguntei-lhe o nome, mas a música estava demasiado alto e nem quando mo disse ao ouvido fazendo-me sentir o calor o seu hálito, que me agradou bastante e que me desconcentrou até, não consegui perceber, decidindo ter que voltar a perguntar-lhe noutra ocasião. Assim controlámos a noite, entre as saídas para a pista de dança, ou para o bar. O espaço repleto de gente, parecia-me vazio como se o resto do mundo ali não estivesse. Quando os amigos chegaram, despediu-se de mim. Despedimo-nos como não nos voltássemos a ver e entre a troca de um adeus lá surgiu um papelinho com um número de telefone.
Não esperei meia hora para lhe ligar, não consegui, e ela não conseguiu deixar-me ir. Dei-lhe boleia para casa, vinte minutos de tortura, conversámos, penso que seria sobre algum tema interessante, mas confesso que só me conseguia lembrar da vontade de lhe colocar as mãos sobre os joelhos e de sentir o calor da sua pele, ainda que as colans estivessem no caminho desse desejo. Claro que não o fiz. Deixei-a em casa, um terceiro andar sem elevador. Mas antes de partir convidou-me para subir, com a certeza de que não recusaria. Disse que sim.
Sem aquela luz, sem música, em silêncio, sentá-mo-nos diretamente na cama, mãos nas mãos, braços nos braços, pele na pele (agora já sem os colans),  lábios nos lábios...
Adormeci. Acordei horas depois, a luz do sol não entrava pela janela do quarto, presumindo que ainda fosse de noite. Ela estava deitada e eu apressei-me a vestir, enquanto me vestia, ia tentando processar o que tinha acabado de acontecer, lembrava-me de tudo através de uma sucessão de imagens, que não tinha bem a certeza de serem minhas, agarrando-me ao que sentia, mas tudo o que o meu corpo recordava era desse sabor que não era meu, um gosto que a minha boca, o meu paladar, não tinha a certeza ao que sabia, mas que não era desagradável.
De regresso a casa, pensei que afinal tinha acabado por não saber o seu nome, não lho perguntei segunda vez, lembrei-me então do papelinho que tinha no bolso com o número de telefone, tirei-o e li-o uma, duas, três vezes e volto a ler novamente. Para lá do número de telefone estava afinal seu nome, Ismael João. Foi então que subitamente para mim tudo fez sentido, ela afinal era ele, descoberta que em vez de me deixar furioso, só aumentou o tamanho do meu sorriso.

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

O disfarce


Coloca a máscara, tira a máscara. Na rua, no trabalho, na vida, nas relações, nas ralações. O Carnaval não são por aí três dias, são na verdade muitos mais. Se pensarmos nas personagens mais ou menos reais, que nos surgem no caminho, que tiram e colocam a máscara... “o melhor é nem pensar”. 
Siga «pó» baile! 
Com tantos disfarces, artimanhas, perucas e maquilhagens mais ou menos bem conseguidas. Quando forem brincar ao Carnaval, se forem brincar ao Carnaval, tenham cuidado. Nunca se sabe o que se pode encontrar por detrás da máscara e se o mascarado não é na verdade alguém que anda disfarçado todos os dias do ano, menos no Carnaval.

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

Solidão hipotecada


O quotidiano era o de sempre, ritualizado. O de um homem de quarenta anos, "um quarentão charmoso", aclamavam por aí, que todas as manhãs saia para tomar o seu café perto de sua casa, nessa cidade situada algures entre os anos 50 e 60. O café era preto, mas as emoções nunca foram tão claras e tudo turvou com a sua entrada. Uma boneca, que ao simples esboçar de um sorriso o perturbava. Queria-a! Desejava-a! Com toda a força desse sentimento de alguém, que gosta de outro alguém. Um amante, que mendiga ao pequeno almoço, almoço e jantar, pela sua atenção.
O amor é simples, mas não o mundo e faltava-lhe ainda esse carácter ecléctico de quem domina o que sente. Mas também não era essa a sua vontade. Atraia-lhe muito mais essa forma de estar, hipotecado de solidão, muito mais que o sonho de um homem evasivo obcecado pelo amor de alguém, que não tem a certeza de ser correspondido.... "Se ao menos o seu sorriso se transformasse em palavras, nas palavras que os seus ouvidos queriam escutar". Mas não sabe, nunca soube e jamais saberá, enquanto lhe faltar a coragem de a surpreender, com tudo o que mais nela o cativa. Não o seu corpo como objecto de desejo: as curvas, os lábios, os olhos, as mãos... embora isso também. Mas muito mais o seu ser, ainda desconhecido para si. Um amor capaz de pagar a hipoteca da sua solidão.


Publicação em destaque

Outono

Incrível!! Ainda ontem o cair da noite banhava lentamente (a passo de caracol) os nenúfares que boiavam no charco verde de águas cálidas, ...