sexta-feira, 1 de abril de 2016

Amor incondicional


Amor incondicional
Há "peixe novo na travessa". Os vizinhos são novos, amorosos, afáveis, discretos, curiosos, atentos e interessantes. Mas os seus donos não.
Acordam cedo mas deitam-se tarde e entre este espaço de tempo estão sempre em alerta e fazem exatamente aquilo que se espera deles. Mas os seus donos não.
Ficam quietos à espera de mimos e de limpeza, ocupam um pequeno espaço, em casa ou no quintal e um grande espaço no coração daqueles que os amam e os acolhem. Doces seres que não empurram os seus dejectos à mangueirada pela calçada fora a meio da noite. Mas os seus donos sim.
Que dão amor e amizade eterna, incondicionalmente, aconteça o que acontecer. Mas os seus donos não.
O tempo passa e os vizinhos cresceram, estão maiores, gigantes e subitamente, na cabeça de outros seres menos capazes de pensar, deixaram de ser afáveis, discretos, curiosos, atentos e interessantes. Desapareceram, muito provavelmente despejados à borda de uma estrada, de um beco, de um mundo que não era o seu e longe daquele que conheceram desde que nasceram. Mas os seus donos não. Ali permanecem impávidos e serenos de consciência tranquila, de quem está habituado a ter a barriga cheia e a alma vazia.

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