quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Sonhos...

Onde os caminhos de cabras acabam e as auto-estradas começam, onde o ar me arranca os botões da camisa e o silêncio, a paz, me lava as obscenidades da alma, existe um mundo diferente daquele em que estamos acostumados a viver - estupidamente mágico e belo - Sonho todos os dias acordado com esse lugar, com medo dos meus sonhos se desvanecerem enquanto durmo. Não é um sonho azul, nem verde, nem cor de rosa, não é um sonho com as claridades do verão planando lagos sobre o barulho das gaivotas, ou a calmaria de uma cama levitando no espaço, com os lençóis manchados de café. São apenas momentos escorrendo em forma de estalagmites numa mina de ouro, diamantes feitos de uma luz muito cintilante. São a alegria e a amizade, o caminho dos miminhos no som das palavras que me embalam no berço da vida até adormecer. Agora o sonho desvaneceu-se. Foi-se por entre a nesga de uma nuvem que, no desabrochar de um relâmpago, parece marcar o momento da ruptura, e pelo passeio da solidão onde os buracos parecem cada vez maiores. Estou furioso, por isso desafogo o cabelo loiro entrelaçado e começo a ler ininterruptamente um pergaminho escrito em papel higiénico, só para me torturar. O grito eleva-se dentro de mim e a dor não tem sentido, mas as lâminas invisíveis acertam sempre no lugar onde escondi o coração e as lágrimas não param de me molhar a barba.

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