Entre o desabafo e a exigência da
perfeição
Vivemos tempos em que a pressão para
sermos perfeitos invade todos os espaços da vida: a família, a escola, o
trabalho, até os momentos íntimos de descanso. O desabafo que tantas vezes se
ouve, portas a bater, pratos no chão, lágrimas e pedidos de desculpa, não é
apenas um retrato doméstico. É o reflexo de uma sociedade que cobra sem
descanso e que raramente oferece espaço para falhar, para ser humano.
A escola, por exemplo, deveria ser
lugar de crescimento e descoberta, mas transforma-se em palco de medos: medo
das queixas, medo de não estar à altura, medo de ser comparado. O lar, que
deveria ser refúgio, torna-se campo de batalha entre expectativas e
frustrações. E no meio de tudo isto, quem sofre não é apenas quem explode, mas
também quem escuta, quem tenta segurar o peso de tantas exigências.
O problema não está apenas nos
comportamentos que magoam , os gritos, os pontapés, os insultos, mas na raiz
que os alimenta: a ideia de que só a perfeição é aceitável. Como se as “esposas das outras” fossem modelos inalcançáveis, como se os filhos tivessem de ser
sempre exemplares, como se os erros fossem pecados imperdoáveis. Essa lógica
corrói a confiança, desgasta os afetos e mina a saúde emocional.
É urgente reconhecer que o silêncio
que se segue às explosões não é paz, mas fadário. É a resignação de quem já não
encontra forças para lutar contra a exigência de ser perfeito. E é precisamente
aí que precisamos de mudar: aceitar que a imperfeição é parte da vida, que o
erro é oportunidade de aprendizagem, que o abraço sincero vale mais do que
qualquer castigo. E vale. Vale tudo e tudo vale.
Amanhã será outro dia, sim. Talvez pior, talvez igual. Mas pode ser também o início de uma nova forma de olhar para nós mesmos e para os outros: com menos cobrança e mais humanidade. Porque só quando deixarmos de exigir perfeição poderemos, finalmente, ser (im)perfeitos e viver com isso
.
