quarta-feira, 19 de maio de 2010

A ternura dos 70

O idoso de 70 anos de cabelo branco, rosto enrugado, com boina castanha e de óculos graduados, lá entrou a custo no banco, para depositar o dinheiro da reforma, um ritual que repetia há anos, mas em vez de dar o dinheiro ao caixa, saca de um revólver, e com a ternura e doçura próprias da idade, lá vai dizendo com dificuldade, meio atrapalhado pelas palavras que parecem ficar presas à dentadura postiça.
- Isto é um assalto.
O caixa mete-lhe o dinheiro num saco do pão, e o velhote auxiliado pelo segurança do banco sai com toda a naturalidade e descontracção.
Cá fora, a sua esposa, Ermelinda de 68 anos, esperava-o ansiosamente ao volante do Cadillac de 1930. Entrou no clássico e saíram dali a alta velocidade, rumo a lugar nenhum.

- Ermelinda, e se parássemos para fazer um piquenique? Disse-lhe com um amor sábio, interiorizado pelos anos que passaram juntos.
Pararam e sentaram-se à beira mar, presos às emoções de estarem vivos e de se sentirem vivos pelas acções praticadas. 50 assaltos em 3 semanas. Que excitação!
- Ermelinda e se fizéssemos amor aqui na praia?
Ela sorriu e disse que sim.
Anacleto com as mãos a tremer de tanta emoção, apressou-se a "vestir o Sénior". A embalagem dizia preservativos Condometric. Uns preservativos originais, concebidos por uma empresa espanhola e  que incorporam uma fita métrica, para medir o tamanho pénis.
Com 70 anos era a Puta da Loucura.









Imagens: Internet



4 comentários:

Unknown disse...

É preciso sentir todos os dias que estamos vivos! kiss

Catarina Reis disse...

Isso é bem verdade.
Bjs Catarina

Anónimo disse...

Brutal!
Paulo

Pat disse...

Muito bom! Adorei a história e a maneira como enredaste o final... muito bom mesmo. :)
**

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