quarta-feira, 15 de julho de 2015

Turista acidental

Estávamos definitivamente no verão. O calor invadia a sala, melancólica de abrigar tantos rostos suados e moles. Os papéis estendidos em cima da mesa pareciam querer cair dali abaixo. "Se ou menos houvesse uma ventoinha". As cadeiras colavam-se às pernas  bronzeadas, em corpos que traduziam sessões de praia ao fim de semana. Na mente, nesses pequenos momentos em que estamos mais para lá do que para cá, persistia apenas uma ideia: Férias! 
Foi então que por momentos, esqueci as birras no trabalho, as tarefas rotineiras, as hora de ponta, a voz de alguém a zumbir no ouvido, os vizinhos mal educados e parti rumo à aventura.
Imaginei-me um turista acidental perdido num paraíso, com a mochilinha às costas, os calções a t-shirt, os chinelos, a tenda, o saco-cama, o cantil de água, a máquina fotográfica, o mapa, o repelente para os insectos e a caixa de preservativos. 
Carregado com toda esta tralha, com aquele ar de boneco desorientado estampado no rosto, passeava por entre as paisagens idílicas que me trespassavam a mente, visitava monumentos e lugares históricos, praias de areia branca, onde me embalava à noite a ver o pôr do sol e a beber uns cocktails exóticos, com gente exótica e colorida, numa mistura de frutas com vários sabores. Depois dançava numa discoteca ao ar livre, fazia amor com desconhecidas, apanhava um escaldão e gastava, em duas semanas de férias, todo o dinheiro ganho em 365 dias.
A alegria era contagiante, as fotografias ilustravam tudo: convívio, cor, amor, aventura, essa quimera de poder viver a sensação de não fazer nada, nada e nada, ainda que só por dois décimos de segundo, o tempo que dura um turista imaginário a acordar do seu sonho quando confrontado com a sensação desagradável de dor, sentida ao cair na cadeira naquela bela tarde de verão, descobrindo que afinal, férias, férias, só mesmo para o ano...

Texto: Catirolas
Foto: Internet

2 comentários:

Penso que sim acho que não ingoro disse...

Um dia.esse sonho que também é o meu, há-de tornar-se realidade.
Vou fazendo as minhas viagens imaginarias.
www.constancia.net/website/98/index.htm

Luis Gonçalves disse...

Já por aqui passei http://www.constancia.net/website/416/index.htm

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