quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Estórias # Histórias

Tenho saudades do tempo em que descia as escadas, da velhinha casa, da minha avó Helena, daquelas casas tipicamente beirãs, com a adega e a loja por baixo, onde as arcas de madeira, cheias de sal, faziam as vezes do frigorífico. Naquele lugar em que os dias outonais mostravam todo o poder das folhas, que se amontoavam, como se estivessem reunidas para um comício, interrompido pelo som sibilante de uma tarde de setembro e das tuas lenga lengas, que herdei de ti com muito carinho.
Já passaram alguns anos, querida avó, desde o tempo em que me contavas as histórias dos nossos antepassados e que eu as registei num caderno para perpetuar essa memória, uns rabiscos que guardo comigo...tenho saudades de ti, desses momentos e desse lugar!
Certo dia voltei lá... a água das fontes continua fresca, as montanhas aborrecidas com o musgo que as envolve, mas o pobre sobreiro está agora ligado aos fios da civilização, por estradas serpenteadas em ziguezagues teimoso e os ribeiros, outrora atravessados por pontes velhas, são apenas lembranças em museus de aldeias...
A casa está vazia, mas na cozinha de pedra, o ar parece impregnado pelo cheiro a café de pão, acabados de fazer. Por um momento, quase que consigo ver-te sentada ao lume num dos bancos de madeira tosca, a retirar a cafeteira mascarrada e a deitar o café no púcaro de esmalte... ao mesmo tempo que me dizias: "Cuidado menina que está quente"!




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