segunda-feira, 25 de junho de 2018

Estórias e rostos de gente por aí

E se um dia, desses em que na terra, brota um calor avassalador e onde a água é quente, mas muito fresca quando deitada goela abaixo, encontrássemos a vida? 
A vida nos pequenos lugares, que não é muito diferente da vida dos lugares pequenos, enche-me de emoção.  
Já passava da hora do almoço, apaixonada pela história, história das gentes e dos lugares, entrei na igreja levada por uma melodia imponente, por vezes suave, outras bruscas, provocada pelos movimentos das mãos de Maria a ensaiar no órgão da igreja. "Isso bem afinado", diz-lhe uma voz logo ali ao lado, a voz do professor atento, que não deixa escapar nenhum detalhe. Um pouco mais à frente a Madalena limpa os bancos de madeira revestidos por uma napa vermelha, um pequeno fio escondido, deixa perceber que no rigor do inverno serão aquecidos.
"A visita é bonita, acha que vale a pena"? Pergunto-lhe. "Vale sim menina, só a vista da parte de cima vale tudo, e os objectos também". Convencida pela Madalena, comprei o bilhete, enquanto a guia me sorria eu retribui a simpatia com uma fotografia. Fiz a visita. Madalena estava certa, era muito bonita.
Deixei a igreja para me entregar à sinuosidade das ruas, empedradas, limpas, viradas para as gentes, aquelas que por ali passam e aquelas que ali ficam, passando o tempo a ver outros passar, como o Francisco, o vendedor de "sons", a imitar um canário, objecto que tenta vender a quem passa na rua. "Há quanto tempo"? Muito tempo! Demasiado para quem nada vende, e muito pouco para quem nada compra.
Deixei a rua da cidade, segui direita ao campo, no pensamento a estrada... e se a estrada por onde segues, não for aquela por onde planeaste ir? E se ela te levar para um caminho onde a erva tenta romper o queimado da terra e o rio te obriga a atravessar uma água transparente?Não faz mal, aliás faz muito bem. Segui em direcção ao campo, na caminhada de descoberta na natureza, pisei uma cobra, fotografei uma formiga, deitei-me no chão e tentei fundir-me com a terra. Perdidamente embrenhada nos pensamentos, encontrei-me no horizonte, com o Manuel e o Joaquim em cima de uma casa de pedra com o telhando redondo, um pouco mais de perto percebo que são funcionários da terra reparando a Cárcoda, sedenta por dois dedos de conversa, mas sem nada lhes perguntar respondem-me, "ali  abaixo há uma fonte com água fresquinha". Informação recolhida e confirmada. Se a água não tem sabor, porque aquela sabia tão bem? Talvez pela sede de beber, de saciar com beijos de vida, a vida... afinal o que se pode fazer a tanto amor? Deixar amar.






Fotos: Catirolas. Nota os nomes das pessoas no texto são fictícios.

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