quarta-feira, 10 de outubro de 2018

O Acidente

Conheci o João numa dessas reportagens que, por acaso, por vezes faço por aí. Rapaz alto, moreno bem apessoado, sempre bem disposto e disposto a rasgar um sorriso, "um bom dia por aqui, uma boa noite por acolá". O jovem de 30 anos, passava muito tempo a fazer trabalho de campo, na cidade, regressando depois à sua quinta onde cultiva papéis. 
Para além do trabalho que lhe preenchia os dias e as noites também, João tinha muitos amigos, tantos quantos eram permitidos virtualmente e outros tantos em lista de espera. Amigos que estavam sempre ligados na vida, mas quase sempre desligados da sua vida.
Um dia de manhã, na sua rotina, nos afazeres do dia a dia, depois de mais uma noite mal dormida, (João dormia mal de noite a pensar no que tinha de fazer durante o dia), algo lhe aconteceu. Recebeu um aviso das finanças, por causa de um assunto que tinha em mãos e pés também, o qual lhe deu momentaneamente boas noticias, seguidas de outras, com as quais não conseguia conviver de consciência e que o fez responder de uma forma honesta e sincera, com toda a verdade no coração. O aviso das finanças, era afinal uma espécie de puxão de orelhas, uma reprimenda, uma condenação, pela decisão que havia tomado. "Respeitamos a sua decisão, mas tendo em conta a resposta da mesma, teremos que repensar e avaliar a sua situação", dizia o aviso.
João tinha muitos amigos, mas naquele dia, nenhum lhe apareceu, nem no dia seguinte, muito menos nos dias que se seguiram. Precisava de desabafar, às vezes com aquela pessoa que não é família, que está fora de casa, mas que está lá para nos ouvir realmente, mas não havia ninguém disponível, também porque João, não era muito de falar sobre si, ou da sua vida, era mais do género ouvinte ou confidente. Por isso, engoliu em seco e guardou tudo no coração. 
Os dias foram passando e apesar da dor não desaparecer, o tempo vai atenuando, e há que mostrar ao mundo que se está bem... Foi então que algo inesperado aconteceu, João teve um acidente de carro, nada de grave, só chapa, algumas nódoas negras e um braço torcido, mas que o transtornou verdadeiramente, muito por conta do outro condutor, que lhe torrou a paciência, com impaciência. A policia apareceu, tomou conta da ocorrência e tudo ficou bem. Ao entregar os papéis à seguradora João olhou pela primeira vez, para o nome e os dados do outro condutor e antes de desatar num mar de lágrimas, num misto de emoções contidas, por tudo o que entretanto tinha vivido, nos últimos dias gritou:"fosca-se! Não é que o fulano nasceu no mesmo dia, em que eu nasci. Qual a probabilidade disso acontecer?"

1 comentário:

yaklibber924 disse...

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