terça-feira, 2 de março de 2010

Pressa

Manhã farrusca, assim começa o dia, encho uma garrafa de água Del Cano, espero pelo comboio de alta velocidade a alta velocidade, leio as notícias do jornal, começo a divagar. Não necessariamente por esta ordem.

Olho em frente e cruzo-me com vários pés que caminham na mesma direcção, passos apressados, em sapatos de pés descalços e que mesmo assim se atropelam. Para onde vão com tanta pressa? Pergunta um garoto.

Passa um autocarro cheio até à porta, e ainda assim parece que cabe sempre mais alguém, gente que se empurra, querendo entrar, corpos espalmados, maquilhagens desfeitas, enfim… nada importa, valores mais altos se levantam, e todos querem entrar naquele veículo como se não houvesse amanhã. Todos desejam chegar ao local onde não existe pressa nem devagar, onde a natureza segue o seu ritmo, onde a vida brota da terra e os riachos suspiram com o canto dos passarinhos pousados nas suas pedras. Todos querem lá chegar, mas não é para lá que vão todos os dias.

Meio atordoado, o autocarro lá começa a andar sem saber muito bem para onde ir… Sorte que os caminhos estão marcados por riscos brancos e de tempos em tempos existem ancoradouros, desde que não venha uma maré de saldos, e não leve o mar de gente para outro lado.
Chegados ao seu destino, os pés, que caminham na mesma direcção em sapatos de pés descalços, já vão cansados e ainda o dia mal começou, vão perdidos num prado de pedras irregulares. Todos os dias dançam ao som da mesma música, todos os dias as mesmas horas perdidas de casa para o trabalho, e do trabalho para casa, assim é a vida da maioria da população do mundo, assim é a vida que o homem, ser inteligente e pensante planeou para ele.

Não serve de nada correr; é preciso partir no momento próprio.
Autor: La Fontaine , Jean de

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