terça-feira, 30 de outubro de 2018

Reality vida

Nunca admiro uma catedral sem me lembrar que são feitos da mesma pedra os degraus mais humildes do burgo. As palavras são como as pedras: o espírito é que as lavra. (Afonso Lopes Vieira, 1878-1946)

Amplidão.
O silêncio vem do interior da cidade. Nos nossos pés ondulam uma infinidade de desejos. O 101010 mais qualquer coisa diz para lhe ligares. Amor, sexo, amizade, receitas de culinária.... é tudo o mesmo e o tudo está nas receitas, nos pozinhos mágicos que não contam como chamadas de valor acrescentado, apenas como chamadas.
É bom existirem opções. Livres escolhas de caminhos a seguir. 
Ainda há crianças, no dia da criança e todos os outros dias em que são igualmente crianças, que querem apenas ser crianças. Crianças de 3, 10, 17, 29, 51 ou de 90... anos, que abandonaram a escola, não para tirar uma selfie, mas para trabalhar. 
Mais cedo que tarde e sem honras ou benefícios, alguém lhes traça um perfil, elabora um relatório, que explica todos os distúrbios emocionais. Vem a televisão filmar tudo e depressa lhes oferece, esse desejo de ascender a altares de capas de revista e rostos de plástico, pessoas em exposição de arte, em forma de bisturi, porque ser perfeito também exige os seus sacrifícios. Reality show, ou, show, show, reality, que é como quem diz. (Vai-te embora realidade). Afinal é preciso mesmo muita coragem para vi(r)ver, mas nenhuma para mudar de canal. 
Foto: Catirolas

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