quarta-feira, 6 de março de 2019

Força nas pernas e luz no horizonte

Numa lápide de pedra tosca, um tosco homem conversa. Fala com as mãos em palavras de gestos crus, adormecidos pelo padre que também ressona ao ouvir o seu pregão, no altar da vida. Enquanto os doidos se apegam, sobem ao mundo, pelas imagens de olhos virais, pessoas de corações vazios ardendo em gelo de emoções, onde se diz sentir tudo, mas onde nada se sente, verdadeiramente. 
No meio da violência, há sempre alguém que se ri. Garfadas de gargalhadas que traduzem os pensamentos, que são como os actos, já não falam por si e os laçarotes que enfeitam a mente roubam o espaço a um penteado de outros tempos. Mesmo a almas carecas.
O que fizemos ao mundo?
Tiquetaque, tiquetaque... a evolução avança nesse tempo, que não conseguimos controlar. Segue demasiado depressa por esse trilho, onde rostos perdidos se agarram com força a metralhadoras, como se fossem ursinhos de peluche para dormir e não hesitam em puxar o gatilho.
Por aí, ensina-se a matar, compra-se (in)felicidade e tudo é demasiado fácil, bastar ter uma dúzia de notas de bolso e uma centena de ideias pervertidas na mente. 
E se pararmos para pensar. Porquê parar para pensar, se temos alguém que pense por nós? Com ideias que se parecem com bares, cheios de copos vazios, prostituindo-se ao primeiro contacto bocal.
Se tenho medo? Tanto, tantas vezes, em tantas ocasiões, ás vezes até receio de abrir a janela e de descobrir como está hoje o dia, pavor de comer e de respirar, um terror desmedido de me perder por caminhos onde não sei quem vou encontrar.
O que fizemos com o mundo?  
Não acordei agora, despertei muito cedo e deixei o carro em casa para a apanhar a bicicleta, mas na ânsia de não me perder esqueci-me pedalar pela vida e a vida fez com que caí-se na estrada, várias vezes... a estrada vai continuar por lá e tu?
... há força nas pernas e luz no horizonte.

Foto: Catirolas

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